O que faremos quando estiar?
Outro dia, quando setembro acabou, me lembrei do que sempre me lembro nesta época do ano: “Havia cinquenta e seis anos que ele não fazia outra coisa senão esperar. Outubro era uma dessas raras coisas que chegavam".
Esse é o trecho do começo de um dos livros mais legais de Gabriel Garcia Marquez, Ninguém Escreve ao Coronel.
Na news de hoje vou trazer um tiquinho de Gabo para a conversa e falar de algumas novidades. Vamos lá ;)
Muitos dos meus livros favoritos da vida foram escritos por Gabriel Garcia Marquez, menos pelo realismo mágico (do que gosto), mas mais pela forma como Gabo usa e resgata suas memórias mais antigas e as entrega em textos fabulosos, universais e para sempre atuais.
Recentemente iniciei novamente a leitura de Cem Anos de Solidão, seu romance mais famoso, cujo enredo eu poderia picotar, jogar pra cima, e remontar sem muita dificuldade. Embora não seja meu livro favorito dele, sem dúvidas é o que me proporciona a maior quantidade de imagens e gatilhos para minha própria vida.
A chuva de Macondo
Já escrevi aqui sobre o que a imagem da chuva de Macondo, que durou cerca de 4 anos, significa para mim. Não uma interpretação da chuva no livro, mas o que ela represta para mim mesmo. Vale a pena dar uma olhada =D.
Mas o dilívio retratado por Gabo revela um comportamento dos cidadãos de Macondo que é muito contemporâneo. Desde quando caíram as primeiras gotas que tudo mais que precisasse ser feito ficava “para quando estiar”. Obras, pagamentos de dívidas, soluções de conflitos e até mesmo a hora da morte… tudo tinha que esperar o fim da chuva para voltar a acontecer. Macondo afogava-se no tempo que pareceu parar.
Troque a chuva pela pandemia e não se surpreenda com tantas coisas que estamos prontos para fazer assim que não precisemos mais usar máscaras, ou quando podermos novamente aglomerar, quando estivermos todos vacinados. Paramos no tempo também?
Eu, que abri um negócio promissor em 7 de março de 2020 (4 dias antes de chover COVID em nossas cabeças), abracei a pandemia como quem abraçava a chuva de Macondo. Enquanto todo mundo repetia o mantra “Vai passar”, eu me preparava para um mergulho difícil e doloroso ao qual estamos sendo submetidos.
Mas saber que não vai passar não me impediu de fazer planos para quando estiar. Tenho vários!
Desejo enormemente ver minha livraria funcionamento plenamente, cheia de crianças pra cima e pra baixo, atividades, cursos, lançamentos, tudo acontecendo sem este fantasma nebuloso que a Providência nos apresentou.
Desejo voltar a caminhar e correr no parque, visitar amigos sem motivo, passear por aí com ou sem propósito, viajar, expandir os negócios, viajar por aí levando meus livros… tudo isso quando estiar.
Desejo ter a cabeça no lugar, voltar a dormir, sentir menos culpa e menos angústia de estar vivo e fazendo de conta que é normal ter água até o joelho ao entrar em casa… sim, quando estiar.
E você? O que quer fazer quando finalmente estiar?
Brincando de fazer e desfazer
Já falei um pouco também sobre o que faço nas frequentes madrugadas de insônia, né? Este projetinho que compartilho abaixo foi meu primeiro diorama (um Book Nook), tendo como cenário o escritório de Aureliano Buendia. Um ambiente muito familiar para mim. O quarto isolado do solitário, onde as coisas são feitas e desfeitas e nada chega ao fim... eternos recomeços.
Foi uma delícia fazer cada detalhe… o mapa de Macondo, os pergaminhos e escritos de Melquíades, a vela, a mesa, o banco quebrado… e os peixinhos dourados. Fiquei feliz com o resultado.
Novos livros a caminho
Semana passada foi para a gráfica o meu próximo livro. Deve chegar no início de novembro (bem antes de estiar!). Velas Cheias de Sonhos conta o começo da história incrível do navegador Aleixo Belov, o primeiro brasileiro a dar a volta ao mundo num barco em solitário… um barco que ele mesmo projetou e construiu.
Mais de um ano de espera até que tudo ficasse do jeitinho que esse grande personagem merece! Na foto, eu depois de revisar a capa =D
Em breve informações sobre lançamentos ;)
E no início de outubro também comecei a fazer as ilustrações de uma história minha. O Trovão e o Rio deve ser o meu livro seguinte, e o primeiro que, além de escrever, também ilustro.
Estou na metade do caminho e o objetivo e terminar o projeto nas próximas semanas e, quem sabe, abrir um novo financiamento coletivo.
Vamos ver =D
Existe um livro infantil sobre isso?
Bem, tomo a liberdade aqui para falar de um livro ilustrado de Gabriel Garcia Marquez, com um dos seus contos mais maravilhosos. A Luz é Como Água é uma história originalmente publicada no livro Doze Contos Peregrinos, nesta edição ilustrdada por Carme Solé Vendrell, editada pela Record.
Um grande exemplo do realismo fantástico, nesta história, dos bocais das lâmpadas do apartamento dos pais de Joel e Totó, em Madri, jorra uma luz que não apenas ilumina a residência, mas também a deixa cheia, pronta para aventuras náuticas. Uma lâmpada quebrada ou fora do encaixe, normalmente, resultaria em escuridão total. Para os meninos, é o oposto. O que seriam trevas são pura luz e um convite a uma brincadeira bem profunda.
Imaginar a luz como se fosse água é um passo além do que imaginar que o chão é lava. Exige uma atenção redobrada para acompanhar o desenrolar das ações e, mesmo tendo lido a história diversas vezes, ainda me vejo sempre preocupado e curioso para saber o que será desses meninos nas noites em que os pais vão ao cinema.
E o que será que acontece quando os pais vão ao cinema? Só lendo o livro para descobrir… ou então, é só esperar estiar =D
Se quiser, a Livroteca Story Time entrega para todo o Brasil <3
Curtiu ou sabe de alguém que pode curtir? Já sabe, né?
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