Neste texto de estreia - uhuuuu! - vou falar um pouco sobre nossas histórias. Sobre como chegamos até aqui. Um olhar para o passado antes de mergulhar no futuro. E assim vocês também me conhecem um pouco mais. Bora?
Antes de tudo, uma apresentação ;)
Há algum tempo, durante uma oficina de produção literária, fomos convidados a nos apresentar enquanto sujeitos a partir de uma imagem. Antes de falar meu nome, meu signo, meus interesses políticos, econômicos e sociais. Antes mesmo de dizer formação, composição familiar ou ocupação. Que imagem me representaria melhor? E como traduzi-la em palavras? Escolhi essa:
Ilustração de Carybé pra o livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez
Posso dizer que sou como a chuva de Macondo. Intenso, infinito, exagerado, muitas vezes eu me vejo transbordando em mim mesmo, sem saber o que fazer. Transito entre a realidade e fantasia, seja no momento mais trivial do meu dia ou na hora mais importante numa reunião de negócios. Não é difícil me perder divagando como seriam as coisas se eu tivesse feito isso ou aquilo diferente 20 anos atrás, aí chovo por dentro. Minhas tempestades não dão medo – não mais. Elas são exatamente como a chuva de Macondo, tão recorrentes que já não causam espanto. Acostumado a elas, busco agora ferramentas para navegar entre os campos alagados da minha cabeça.
Com o tempo vocês poderão me conhecer melhor. E como cheguei até aqui.
Uma reflexão sobre caminhos e onde os nossos se conectam
Quando eu era bem pequeno, estudava na mesma escola com a minha prima Juliana, da minha idade. No carro, voltando para casa, minha mãe e minha tia sempre buscavam formas de manter as crianças entretidas numa época em que não existiam jogos eletrônicos, absolutamente. É provável que estivéssemos na “fase das profissões”, já que o assunto escolhido para essa história que vou contar era justamente o “O que você gostaria de ser quando crescer?”. Quem nunca, né? Parecia uma boa oportunidade para elas ouvirem nossa perspectiva sobre o tema.
- Vou casar com um homem rico - Destilou minha prima, sem cerimônias, ajeitando o cabelo.
Gargalhada das adultas. Éramos crianças com pouco mais de sete anos e era esperado que ouvissem respostas como médica, engenheira, professora… até astronauta. A realidade, no entanto, veio a cavalo e surpreendeu a todos. Eu, que já estava refletindo seriamente sobre a minha resposta, fiquei mais tenso após o aparente sucesso da minha desafiante.
- E você, Bito? - Perguntou minha mãe, de sorriso no rosto.
- Vou ser funcionário público - Decretei.
O silêncio quase fúnebre contrastou duramente com o ar despojado e alegre de segundos antes, como se algo realmente grave tivesse acontecido no planeta. Depois de um tempo, um comentário de minha tia foi o suficiente para que essa história entrasse para o hall das memórias coletivas da família:
- Já sabemos que não se casará com Juliana.
Na foto, Juliana, eu e minha irmã, nesta ordem, em frente à nossa casa em Itaparica-BA. Ela, rica por si só. Eu, funcionário público.
O fato é que eu tinha dois pais funcionários públicos e uma deferência solene, quase mística, a respeito daquilo, embora não soubesse exatamente o que significava.
Olhando agora, teria sido uma premonição? Destino? Persegui esta meta com tanta determinação até me tornar o servidor público que sou hoje? TAN-TAN-TAN!
Sou capaz de elencar cada acontecimento dos últimos 30 e tantos anos a ponto de dar uma resposta afirmativa a esta reflexão. Talvez até escrever um livro sobre investir na carreira desde criança e ter sucesso, será? Ficaria ao lado do “Se você quer, faça acontecer” e “10 dicas para conquistar 1 milhão muito rápido” na prateleira de autoajuda ou charlatanismo.
A nossa história se constrói com narrativas, e a gente vai buscando dar um sentido a cada escolha, encadeando tudo de forma lógica, criando relações de causa e consequência, talvez pelo fato de não suportarmos o fato de que não há controle sobre nada e de que somos obra do puro acaso.
Veja bem… entre o aspirante a funcionário público de 7 anos e o funcionário público de quase 41 há um abismo. Há um músico frustrado, um poeta desqualificado, um potencial atleta e professor de educação física, ex-estudante de Biologia e Psicologia, bacharel em Jornalismo, pós-graduado em artes fotográficas, escritor e empresário. É muito trabalho para o roteirista tornar essas escolhas concatenadas numa narrativa verossímil, não? Mas nos esforçamos.
É aí que nossas histórias realmente se conectam: no esforço hercúleo de fazer tudo isso ter algum sentido para sustentar o que chamamos de identidade. É o que nos define, então: somos buscadores de sentido, mais do que tudo, mesmo que não façamos ideia de qual o destino.
O que descobri, no fim das contas, é que não importa o destino… teremos uma explicação na ponta da língua para justificá-lo.
Há um livro infantil sobre isso?
Pensei numa brincadeira aqui. Para todo tema que eu escolher, vou ver se há algum livro infantil que aborde - mesmo que de forma parcial - o assunto da News da semana. Dei uma olhada em nossas prateleiras e me lembrei da obra abaixo:
Você pode até nunca ter lido nenhum livro de Dr. Seuss, mas é praticamente impossível não ter sido impactado por sua obra, de uma forma ou de outra. O conhecido autor do livro Como o Grinch Roubou o Natal e O Gato da Cartola publicou mais de 60 obras, e hoje vamos falar de uma das minhas preferidas: Ah, os lugares aonde você irá!, publicado no Brasil pela Companhia das Letrinhas.
O texto, todo rimado, é uma ode à aventura e à descoberta, escrito já no fim da vida do autor. “Você vai para lugares incríveis, viver coisas que jamais viveu”, ele profetiza para a criança-leitora. Mas a narrativa cabe muito bem para leitores mais velhos, com certeza.
Ao longo do livro, o personagem principal – seja ele Bianca, Beatriz, Bartolomeu, Galileu Maguila do Nascimento Abreu, ou seja você mesmo, que está lendo esta News – vai conhecendo um pouco do que lhe espera na visão de Dr. Seuss. Do momento do despertar, disposto e otimista, passando por decisões simples até os perrengues mais complicados, momentos de tensão e solidão, sempre com um chamado para seguir em frente.
Essa é a mensagem do livro, no fim das contas: temos coisas a fazer, temos lugares para conhecer, então é melhor arregaçar as mangas e começar a caminhar para ver onde a estrada vai dar. E é certo que teremos altos e baixos no caminho. Naturalmente.
Há estrofes que, por si, já valem o momento da leitura. Destaco a minha preferida:
“Você pode ficar tão confuso
que vai começar a correr
por longas estradas incertas num ritmo de enlouquecer
e vai se cansar da jornada selvagem que tem a percorrer
em direção a um lugar inútil, por assim dizer.
O Lugar da Espera”.
Quem nunca se viu trancafiado no Lugar da Espera? Onde todo mundo vive esperando por alguma coisa, depois de ter avançado tanto, mas não o suficiente. Já estive por lá e passaram-se anos até que eu arrumasse forças para deixar de esperar.
Gostou? Você pode comprar esse e vários outros livros incríveis na Livroteca Story Time, pelo Whatsapp!
Para finalizar, “uma palavra dos nossos patrocinadores”
A Livroteca Story Time é uma livraria dedicada à literatura infantil, fundada por mim e por Vanessa, minha esposa. Nosso espaço físico é em Brasília-DF, mas atendemos e entregamos em todo o Brasil. Nesta semana, dias 13 e 15 de setembro, estamos oferecendo mais uma edição da oficina Lendo com Crianças: dicas para criar vínculos.
Nesta oficina com a educadora, escritora e fundadora da Livroteca Story Time, Vanessa Teles, vamos explorar juntos as muitas maneiras de lermos com as crianças! Você terá acesso a dicas para a criação de um repertório próprio para transformar a hora da leitura em um momento mágico que liga de forma poderosa a criança às histórias, ao livro e àqueles que estão lendo junto com ela.
📌 ONDE
Online - link de acesso será enviado aos inscritos
📅 DATA
13 e 15 de setembro de 2021 (segunda e quarta-feira) – ⏰ das 19h às 21h
⏱️ DURAÇÃO
4 horas no total: 2 encontros de 2h cada
👉 INVESTIMENTO
R$ 34,90
Até a próxima ;)
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toda vez que sento para escrever um texto, a sensação é dessa repetição.
já percebi que no fundo é mesmo, mas também me dou a grande chance de me repetir até fazer diferente. freud diz que a gente vive pra recordar, repetir e elaborar. gastar a vida com isso me parece bom, não parece?
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ótimo começo de news! bora continuar a pavimentar essa estrada!
beijocas